A obra do Senhor



A obra do Senhor

Qualquer pessoa que entre em uma igreja evangélica e assente-se para ouvir um sermão dominical, certamente ouvirá um apelo para que o cristão empenhe-se em executar “a obra do Senhor”, a ser fiel e zeloso, de tal sorte que essa obra maravilhosa não seja prejudicada pela sua negligência ou omissão. Com certeza, o ministro também deixará bem claro o que ele quer dizer com “a obra do Senhor”, de modo que recordará ao cristão a sua obrigação de evangelizar, de contribuir, de orar; de ser assíduo nos cultos e aos demais serviços, de se engajar nas atividades dos diversos departamentos da igreja, e assim por diante.

Nesses momentos uma pergunta sempre me toma de assalto, furiosa e constrangedora: será essa realmente a “obra do Senhor”? Foi para isto que realmente fomos criados e colocados neste mundo pleno de possibilidades e prenhe de dificuldades? Será que é realmente para realizarmos este tipo de obra que deveremos com o suor do rosto comer o nosso pão, para depois de vencer os espinhos e cardos retornar ao pó de onde fomos tirados?

Incômoda e perversa dúvida, que me tira a paz e impede a perfeita comunhão durante o serviço religioso; que me acompanha de volta ao lar, que à mesa do almoço de domingo contrapõe-se ao rosto sadio e vigoroso dos meus cinco filhos ou ao sorriso doce da minha companheira; que se reflete nos livros em minhas estantes, ou que embaralha os sons da “sonata ao luar”, intercalando entre eles notas de dissonância e de apreensão; que definitivamente se enfraquece quando o aroma da comida e do vinho me chegam à boca.

Deve haver também uma outra “obra do Senhor”, por certo. E nela não faltarão os filhos e a mulher, o comer e beber bem, a alegria da vida e a paz do lar; os deleites e prazeres da alma, ou o desabrochar seguro, gradual e incessante dos fluxos de amor, da criatividade, da energia realizadora, que nascem de dentro de nós, e que, apesar de tudo e contra tudo isso, concretizam-se nas “boas obras que Deus já antes tinha preparado para que nelas andássemos”.(Ef2;10b)

Pois é esta visão do mundo, integral e ampla, que não se esquece do definitivo, mas que acaricia com carinho o temporal e provisório, e que se volta sobre o homem total, que sobressai das páginas do Gênesis com a força e a rudeza de um mundo juvenil e recém  criado, e que na exuberância da presença do Altíssimo clama aos quatro ventos que é “muito bom” (Gn 1;31)

É desta visão que carece a moribunda civilização do ocidente, e sem ela não poderá dar à luz o filho renovado que traz em seu ventre. Os trabalhos deste parto estão confiados àqueles que nãos se afastaram das verdades das escrituras, e que conservaram as corretas dimensões da religião. Trabalhemos, pois, de forma correta e hábil! E a primeira coisa a fazer é resgatar esta primordial visão  do mundo, de forma que nossos olhos abram-se e possamos então perceber como hoje estamos nus!

Extraído do livro “uma sinfonia para a vida” Paulo José F. de Oliveira.  Editora ABU.

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